quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Literatura Piauiense de Cordel





A literatura piauiense por infortúnio é pouco conhecida, embora tal vertente seja riquíssima de autores e obras de comuns a sublimes. Seguindo esta linha de raciocínio o Piauí contém conteúdos desconhecidos até pelos seus conterrâneos e a literatura de cordel não foge a regra.

Piauí terra querida
Filha do sol do Equador,
Terra com belezas naturais
Obras do Pai Criador,
Dádiva da mãe natureza
A esse povo acolhedor
— Orlando Paiva

Cordel são folhetos contendo poemas populares, expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome. Os poemas de cordel são escritos em forma de rima e alguns são ilustrados.

Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores.

Um dos principais cordéis regionalista “Cordel em Homenagem ao Piauí” de Orlando Paiva o qual é inicialmente parecido com o “Hino do Piauí” . Outro famoso é “Chico Vaqueiro do Meu Piauí”. Segue abaixo um pequeno trecho retirado deste cordel feito por Alvina Gameiro.

VI

O Vaqueiro de pé, tem ares de um vigia,
erguido no terreiro, amarrado à magia,
de um sonho fascinante, eivado de poesia...

Em palor o clarão da tarde se resume;
já começa a dançar no espaço o vaga-lume;
as estrelas no céu acenderam seu lume
até que o dia surja entre os braços da aurora.
Diáfana beleza empolga o campo a fora
e o concerto do vento está parando agora.

A noite vai tomando o coração da mata;
a gentil açucena em néctar se desata.
Apenas, no silêncio, há notas de sonata,
que os sapos, em mil sons, rouquejam sem parar,
pois têm cada vivente em meio de saudar,
mostrando aos corações um jeito de agradar...

O esplendor do luar, que mais e mais fulgura,
de prata banha inteira a máscula figura,
tão imóvel que até nos lembra uma escultura
de guerreiro lendário ou místico profeta...
É que o Vaqueiro escuta em meio à noite quieta,
sua alma que se dá a cantares de poeta...

Tem BA boca apagado o coto do cigarro;
ouve atento o cri-cri desse grilo bizarro,
cantador do gramado ou da frincha de barro,
e lhe vem à cabeça a existência suprema
de um Deus que fez o amor, que da vida é o emblema,
como a rima de luz é a essência de um poema...

Falando à Natureza, ele pergunta apenas,
por que foi que o <<Senhor>> molhou com tantas penas
as delícias do amor nas estradas terrenas?
Com que fim acordou a estranha comoção
que sente sem querer, tomar-lhe o coração
e é misto de prazer e de atribulação?!...

E Chico sabe, sim, que este amor vinga e cresce
e se o tenta esconder, tanto mais aparece
e quanto mais na sombra, então, é que floresce...



Alvina é uma escritora e poeta piauiense, originária de Oeiras. No entanto, não é uma representante tão forte na literatura popular, pois o cargo é ocupado por Chico do Romance. Este encontrava-se diariamente pela manhã na Praça do Mercado de Piripiri onde numa pequena banquinha vende, com o auxílio de um microfone, os seus incontáveis livretos de cordel. Chico é um dos maiores cordelistas do Nordeste sendo suas obras estudadas por várias universidades do Brasil, da França, Japão, Holanda e estados Unidos.


  CHICO DOS ROMANCES 


 


Francisco Peres de Souza mais conhecido como Chico dos romances é natural de Piracuruca, nascido no dia 1 de abril de 1939 foi um dos maiores autores do cordel.

Por volta dos seus 10 anos ficou órfão de mãe e logo após o incidente passou a morar com sua tia em Piripiri. Desde a época já era dedicado a produzir sua literatura de cordel com o intuito de comercializa-la assim conforme todo cordelista.

Certas pesquisas apontam que Chico dos romances já passa de 200 obras autorais de cordel, sendo autor de letras de músicas é atualmente apresentado no mercado público de Piripiri ou até mesmo em escolas, bibliotecas e universidades e também pertencente a Academia de Letras, Ciências e Artes de Piripiri, a ACALPI.

Principais Obras:

A história das sete cidades e a deusa da encantaria
A alma que foi a festa e brigou com o maldito
O profeta Jonas e sua viagem a Nínive
Pequenos dados históricos sobre o Piauí
Versos sobre o filósofo Sócrates







Além destes cordelistas, existe a Academia Piauiense de Literatura de Cordel, sendo esta a primeira no Brasil todo. Tem 35 autores poetas populares e cordelistas o qual a academia não visa só enriquecer, mas reconhecer mais o trabalho desempenhado por cada um dos poetas. A academia localiza-se na sede do Projeto Música Para Todos.


Um comentário:

  1. A literatura de Cordel mostra nossa origem e cultura, debates sobre a cultura de um povo multicultural. Apresentam em cada verso traço do povo nordestino, a realidade social do homem do campo- trabalhador e resistente e abençoado por Papai do céu. Traços do Brasil em cada trecho relatado. Não é uma literatura vulgar que somente fala de sexo e desejos carnais pecaminosos, mas está preocupado em relatar a realidade da população em situação de vulnerabilidade social, carente de políticas públicas. Da zona rural.

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